A Teoria dos SetĂȘnios - Antroposofia
- Lucila Marques
- 1 de set. de 2017
- 8 min de leitura
A teoria dos SetĂȘnios faz parte da Antroposofia, uma linha de pensamento criada pelo filĂłsofo AustrĂaco Rudolff Steiner. Esta linha entende que existe uma espĂ©cie de âpedagogia de viverâ, que, segundo Steiner, abrange vĂĄrios setores da vida, como a educação, a saĂșde, a agronomia, entre outros.
Para Antroposofia, o ser humano precisa conhecer a si mesmo, afim de compreender o Universo, visto que todos nĂłs integramos e participamos do Universo. Nas palavras de Steiner, Ă© âum caminho de conhecimento que deseja levar o espiritual da entidade humana para o espiritual do universoâ.
A teoria dos setĂȘnios foi elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza, da qual nĂłs humanos fazemos parte. Baseia-se em dividir a vida em fases de sete em sete anos. Os setĂȘnios demonstram como se pode entender os ciclos de vida de uma maneira prĂĄtica e sĂĄbia.
O nĂșmero sete Ă© muito importante na maioria das culturas. Vale lembrar que na bĂblia Deus criou o mundo em sete dias; a semana possui sete dias; temos sete planetas relacionados ao homem (Sol, Lua, MercĂșrio, VĂȘnus, Marte, JĂșpiter, Saturno) que sĂŁo tambĂ©m os sete deuses olĂmpicos; e sĂŁo sete metais (ouro, prata, mercĂșrio, cobre, ferro, estanho e chumbo).
A teoria revela as complexidades de cada etapa e como o corpo humano influencia as emoçÔes e atitudes.
A Teoria dos SetĂȘnios possui sete ciclos:
0 a 7 anos â O ninho. Interação entre o individual (adormecido) e o hereditĂĄrio
A primeira infĂąncia Ă© uma fase de individuação, de construção do nosso corpo, jĂĄ separado do da nossa mĂŁe, da nossa mente e da nossa personalidade. Nesse ciclo nossos ĂłrgĂŁos fĂsicos estĂŁo sendo formados para que sejamos indivĂduos Ășnicos. O crescimento estĂĄ ligado Ă nossa cabeça, ao ponto mais alto, o superior, o pensar.
A separação da mãe é um momento importante para a psique e para o corpo. A Antroposofia, entende que na primeira infùncia a criança tem que perceber os aspectos positivos do mundo, para quererem estar aqui e cultivarem a felicidade em longo prazo.
O primeiro setĂȘnio deve oportunizar o movimento livre, a corrida, as brincadeiras, deve permitir que a criança teste e conheça seu corpo, seus limites e suas percepçÔes de mundo. Por isso o espaço fĂsico Ă© muito importante, bem como o espaço do pensar e o do viver espiritual.
7 a 14 anos â Sentido de si, autoridade do outro, autoridade amada
Fase dos dentes permanentes e amadurecimento do coração e pulmĂŁo, promove um profundo despertar do sentimento prĂłprio. O mundo externo nos encontra, forças entram e saem de nĂłs. A grande marca Ă© a troca. Neste setĂȘnio a autoridade de pais e professores tem enorme relevĂąncia, esses adultos orientam a conduta da criança. As atitudes desses mediadores influenciam como a criança verĂĄ o mundo. Autoritarismo mostra frieza e crueldade, permissividade leva a comportamentos inapropriados.

Nesse ciclo as normas e os hĂĄbitos estĂŁo sendo absorvidos, o desenvolvimento sadio do ser humano estĂĄ relacionado Ă dosagem, o equilĂbrio e a harmonia das relaçÔes de autoridade, valores, limites e permissĂ”es. Ă o sentir que estĂĄ sendo afetado, o desenvolvimento das emoçÔes. Do interior para o exterior e vice-versa.
A arte deve ser estimulada, os mundos artĂstico e religioso auxiliam no sentido de si e do mundo, fluindo a alma, que busca a beleza e a fĂ©. E, sobretudo, fazendo um contraponto Ă dura descoberta das diferenças, pois Ă© tambĂ©m nessa fase do conhecimento de si que percebemos como uns e outros sĂŁo diferenciados na sociedade, como as diferenças sociais, religiosas, raciais ou mesmo geogrĂĄficas.
14 a 21 anos â puberdade/adolescĂȘncia â crise de identidade
A mulher menstrua e o homem entra em sua fase fĂ©rtil. O ser humano sai da abstração da infĂąncia e desembarca no mundo terreno. Nesta crise de identidade, onde nĂŁo se Ă© mais criança nem adulto, o indivĂduo quer liberdade. O mundo nĂŁo estĂĄ mais restrito a famĂlia e a escola. A pessoa deseja ser reconhecido como indivĂduo e ser aceito por um grupo, ele precisa se reconhecer e ser reconhecido, achar a âsua turmaâ para compor um grupo no qual se identifique.
A marca deste setĂȘnio sĂŁo as escolhas, qual profissĂŁo seguir e onde estudar. Nesta fase Ă© onde a vida profissional tem inĂcio, dando parte da sonhada liberdade. O jovem pode distorcer as coisas e acreditar que o dinheiro Ă© a chave de tudo. Existe a crença de que somos maduros o suficiente, que sabemos tudo e podemos emitir julgamentos racionais.
Essa liberdade tambĂ©m tem um sentido de exposição. Tudo estĂĄ voltado para o externo, para fora, para o mundo. HĂĄ uma dificuldade em ouvir o outro e entender suas posiçÔes, tudo deve seguir o seu sentimento de mudança, de julgamento de certo e errado, de bom e ruim. As trocas nesse ciclo sĂŁo importantĂssimas. O diĂĄlogo, a abertura ao novo, a prĂĄtica da compreensĂŁo, da solidariedade, assim como o seu reconhecimento e o pertencimento.
Os questionamentos sĂŁo fruto desses choques. Ă o momento de questionar a tudo e a todos. O caminho contrĂĄrio do âhabitualâ pode ser exclusivamente para reforçar a tensĂŁo. As drogas podem estar nesse contexto. Ă importante que saibamos que Ă© uma fase extremamente difĂcil, onde o adolescente precisa negar e se opor, para que, a partir da percepção do que nĂŁo Ă©, encontrar-se a si mesmo.
21 a 28 anos â O âEuâ â a independĂȘncia e a crise do talento â experimentar limites
Ossos e mĂșsculos fortes. Homem e mulher estĂŁo no auge da fertilidade. No quarto setĂȘnio Ă© a fase das sensaçÔes e emoçÔes. Momento de se perguntar se escolheu a profissĂŁo correta, se deixou de aprimorar alguma aptidĂŁo e se estĂĄ em harmonia com o mundo, famĂlia e consigo. O âEuâ ainda estĂĄ em fase de formação, porĂ©m, se mostra fortemente. O trabalho Ă© muito importante para esta formação. NĂŁo atingir os objetivos causa frustraçÔes.
A histĂłria das pessoas começa a ser traçadas por elas mesmas, pois hĂĄ uma tomada de caminho que nĂŁo depende mais, diretamente, das outras instituiçÔes. Ă uma emancipação em todos os nĂveis, mas como resultado de toda a experiĂȘncia nos trĂȘs primeiros setĂȘnios. Surpreendentemente, Ă© tambĂ©m a fase em que mais nos influenciamos pelos outros, pois a sociedade dirĂĄ o ritmo da vida de cada um.
Nesse ciclo, os valores, aprendizados, e liçÔes de vida passam a fazer mais sentido. As energias estão mais pacificadas. Nosso lugar no mundo é o principal objetivo. A colocação profissional assume um papel muito importante. O não atingimento desse objetivo pode gerar muita ansiedade e frustração, especialmente se todos os anos até aqui não foram suficientes para descobrirmos e desenvolvermos os nossos talentos.
28 a 35 anos â fase organizacional e crises existenciais
O rosto revela as primeiras rugas. O indivĂduo questiona se estĂĄ no caminho certo. A pessoa tambĂ©m pergunta se consegue expressar seus sentimentos e pensamentos. A famosa âcrise dos 30â traz angĂșstia e vazio. A busca pelo seu lugar no mundo leva a pessoa a uma jornada espiritual âcaminho da almaâ. A harmonia demora a acontecer, somos cobrados por estrutura, firmeza, estabilidade, uma base, um pilar, que seja material e que tambĂ©m sejam mental e espiritual. Para a Antroposofia, apĂłs o 31 1/2, que Ă© a metade do 63Âș ano de vida Ă© o tĂ©rmino das influĂȘncias planetĂĄrias e zodiacais. Passada essa idade, conquistamos mais liberdade.
Estamos realmente, nessa fase, em organização. Ă nesse ciclo que passamos a pesar uma sĂ©rie de coisas, avaliar a trajetĂłria da nossa vida, esse nĂŁo lugar nos força a perguntar âquem sou euâ. HĂĄ uma renovação a partir desse ciclo. Estamos tendo crises, mas Ă© por meio dessas crises que construĂmos novos pensamentos, novos valores, terminamos relacionamentos e começamos outros, mudamos de emprego, de ideologias, de partidos polĂticos, enfim⊠crises, desorganizaçÔes e reorganizaçÔes.
35 a 42 anos â crise de autenticidade
Os cabelos embranquecem e começam a cair. Na fase da consciĂȘncia, o indivĂduo se pergunta o que virĂĄ, se foram adquiridos valores importantes e se encontrou e exerce sua missĂŁo de vida. O sexto setĂȘnio tem conexĂŁo com o anterior, no que tange as crises. Este traz descontentamento e dĂșvidas se ainda conseguirĂĄ fazer algo novo e interessante.
Temos, aqui, mais capacidade de julgamento, gozamos de mais maturidade psĂquica e emocional. Em geral, jĂĄ acumulamos alguns bens materiais ou ao menos conseguimos uma renda que seja suficiente para as questĂ”es bĂĄsicas de consumo. O desafio, entĂŁo, Ă© encontrar valores espirituais e nos reconhecermos como seres Ășnicos. A pergunta Ă©: como Ă© que encontro o caminho para a essĂȘncia do mundo e para a minha prĂłpria essĂȘncia?
Ă possĂvel que esse ciclo traga um descontentamento com o novo. Pode ser que o sujeito questione se, chegando aos 40 anos, ainda hĂĄ algo novo para se fazer. Buscar coisas novas Ă© um exercĂcio importante para esse ciclo. Em contraponto ao novo, hĂĄ uma aceitação maior do que se Ă©, de como se Ă©, das histĂłrias e experiĂȘncias de vida.
42 a 49 anos â altruĂsmo x querer manter a fase expansiva
Começam a menopausa e a andropausa. O medo do envelhecimento surge. A grande dĂșvida Ă© se estĂĄ desenvolvendo alguma habilidade. Questionamentos sobre o relacionamento conjugal e com os filhos ocupam a mente. A crise dos 30 foi superada e tem inĂcio um perĂodo de recomeço. Nesta fase, o indivĂduo estĂĄ sedento por novidades, entretanto, as mudanças causam medo. Mas, a pessoa tem plena consciĂȘncia de que âcomo estĂĄ, nĂŁo dĂĄ pra ficarâ.
Essa dinĂąmica impulsiona a tomada de decisĂ”es que, por vezes, ficou anos sendo gestadas dentro de si. Pode ser a separação conjugal, a saĂda de uma empresa, ter um filho, etc. Ă uma fase que corresponde, em termos energĂ©ticos, Ă fase que vai dos 14 aos 21 anos. Ficamos saudosistas, queremos reviver coisas da nossa adolescĂȘncia. Voltamos a desafiar nosso corpo e fazer esporte.
Esse setĂȘnio traz o contraditĂłrio: queremos mudanças, estamos em busca do novo, mas o envelhecimento que Ă© uma mudança natural nos assusta, incomoda, gera ansiedade, muda nosso comportamento com relação a nĂłs mesmos e ao mundo
49 a 56 anos â ouvir o mundo
Menos vitalidade. O perĂodo inspirativo ou moral traz as seguintes questĂ”es: âComo estĂĄ meu ritmo de vida?â, âO que preciso cortar da minha vida, para que o novo possa surgir?â. Ă a fase de desenvolvimento do espĂrito. Ă um setĂȘnio tranquilo e positivo. As forças energĂ©ticas voltam a estar concentradas na regiĂŁo central do corpo, mas estĂŁo voltadas ao sentimento da Ă©tica, da moral, do bem-estar, questĂ”es universais, humanĂsticas.
Este setĂȘnio Ă© fisiologicamente parecido com o segundo setĂȘnio (7 aos 14 anos- intercĂąmbio entre o individual (adormecido) e o hereditĂĄrio), pois, o ritmo precisa ser priorizado para começar uma nova rotina. Ă a fase de uma audição diferente, na qual ouvimos a voz do coração para a renovação Ă©tico e moral.
Ă um momento em que estamos mais conscientes do mundo e de nĂłs mesmos. Ă um bom momento para reconhecer os mĂ©ritos da nossa histĂłria, aceitando-a sem julgamentos. Esse ciclo desperta em nĂłs o existencialismo para observarmos mais de perto o valor simbĂłlico das coisas. Deixamos o pessoal, particular em busca do universal, do humanĂstico, do existencial.
56 a 63 anos â (e adiante) abnegação/sabedoria
O nono setĂȘnio Ă© a fase da intuição. O nono setĂȘnio Ă© equivalente ao primeiro (0 a 7 anos â intercĂąmbio entre o individual (adormecido) e o hereditĂĄrio).
No 56Âș aniversĂĄrio ocorre uma mudança significativa na maneira como o indivĂduo se relaciona com ele e com o mundo. HĂĄ uma preocupação sobre o tratamento dado ao corpo. Ă muito importante estimular o cĂ©rebro. Ler, fazer palavras cruzadas, andar por ruas que nunca andou. O cĂ©rebro, assim como qualquer ĂłrgĂŁo precisa ser estimulado para funcionar corretamente.
O interno passa a fazer muito mais sentido que o externo. Ă importante internalizar-se, desenvolver os sentidos espirituais. Torna-se difĂcil a comunicação com o exterior (choque de geraçÔes). A pessoa passa a prezar a reclusĂŁo, pois, sabe que a busca por autoconhecimento depende disso. Este afastamento traz aprimoramento da espiritualidade.
Atividades muito bem-vindas nesse setĂȘnio sĂŁo as acadĂȘmicas â lecionando ou fazendo novos cursos â escrever textos ou um livro, o laser em grupos de pessoas na mesma fase da vida, viagens e outras formas que relacionem prazer e aprendizado. A aproximação da famĂlia ou a construção de novas famĂlias tambĂ©m ajudam a dar novo sentido Ă vida.
DĂ©cimo setĂȘnio: 63 aos 70 anos
Ă a fase do mestre. A criança tem ao seu redor uma luz ainda nĂŁo definida. No dĂ©cimo setĂȘnio essa luz estĂĄ na alma do indivĂduo e irradia. A luz brilha somente quando a saĂșde fĂsica e mental estĂŁo boas.